Olavo de Carvalho: o Brasil, seus alunos e seus inimigos
Faço pesquisas antes de escrever qualquer texto, mas este, confesso, escrevo com memórias de cabeça – quando não do coração. No dia 25/01/2022 morreu o escritor Olavo de Carvalho. Peça fundamental para entender o novo Brasil, o polêmico era provocador, instigante, amoroso com os próximos e virulento contra o que ele chamava de "comunistada". Entre um palavrão e outro, entre uma análise ímpar e outra, ele se colocou no bastião do debate público brasileiro como nenhum outro escritor.
Passou por redações de grandes jornais e revistas, como O Globo, Época, Diário do Comércio e Jornal do Brasil. Como gavião não é passarinho de gaiola e não consegue voar amarrado, se viu obrigado a partir para carreira solo inaugurando site próprio olavodecarvalho.org – quando nenhum outro jornalista possuía. Depois, saindo mais uma vez na frente, lançou o TrueOutspeak, um tipo de podcast – quando essa palavra ainda nem era conhecida -e montou bases para seu famoso curso de filosofia, o COF. Não há números certos conhecidos mas é considerado o mais frequentado curso de filosofia do país.
Pode parecer estranho mas acho pedagógico propor ao leitor uma ilação. Imagine um Brasil sem as manifestações de 2013 (ou muito menores); imagine um mandado presidencial de Haddad; imagine que as opções de eleição (haveria eleições?) neste ano fossem Lula e algum tucano; imaginem ler os jornalões e achar que vivemos numa Disneylândia (fulano de tal é "o cara", fulano de tal "paz e amor"); imagine a direita brasileira, ora cooptada pelo bolsonarismo, sequer existir, com alguns ingênuos acreditando ser representados por algum tucano; só imagine....
Sem Olavo o país seria outro. Ele alertou a direita que não basta empreender de dia e rezar de noite, enquanto a esquerda seguia ocupando sindicatos, universidades, veículos de comunicação, setor artístico/cultural e, por último, eleições. Mexeu com a direita quando explicou o perigo de ficar apenas em pautas econômicas. Olavo trouxe a direita para a guerra cultural (vale a pena a leitura do livro Guerra Cultural) ao provocar movimentos racialistas, anti-liberdade e pautas de gênero.
Eu, Rono Bhering, fui tirado do petismo aos 17 anos pelo professor Olavo. Tive alguns bons problemas na universidade de jornalismo por defender a visão de mundo direitista – em uma época que ainda era palavrão ser de direita. Enchi a paciência daquilo e larguei o curso no meio. Há mais espaço para debate dentro de uma igreja evangélica do que dentro de uma universidade. Olavo cutucou no vespeiro do ensino brasileiro e isso lhe trouxe fartos inimigos.
O velho deve estar rindo a esta altura do campeonato. Nunca achou que chegaria e nem tinha pretensão de chegar tão longe. Aos seus alunos, deixará saudade. Aos que o odeiam, seguirão odiando pois sua obra não foi junto para o caixão. Já o Brasil, este vai demorar a receber outra figura tão polêmica, livre e carismática.
Comentários: 1
Brilhante como sempre, meu amigo.