Quando os 3 se misturam, quem perde é o leitor
Um jornal é feito de várias segmentações: notícias (fatos propriamente ditos), análises (explicações dos motivos dos fatos) e propaganda, basicamente. Todos estes três elementos devem estar colocados de maneira bastante clara para o leitor. Esta dinâmica permite que o jornal tenha credibilidade. Os três não podem se misturar.
Se o jornalista que escreve sobre veículos, criticar um Mercedez-Benz na página A, não pode este mesmo profissional aparecer na página B dando um joinha e ganhando para fazer propaganda para a Chevrolet. A linha entre propaganda e notícia não fica clara. Da mesma maneira o jornalista que escreve notícia sobre política na página C, não pode aparecer fazendo campanha, mesmo que velada, para si mesmo na página D. A linha entre notícia e análise não fica clara.
Tais situações hipotéticas descritas acima infelizmente passaram a dominar o jornalismo profissional desde o advento da internet. Se antes papai e mamãe viam as mesmas notícias no Jornal Nacional, hoje você e sua esposa/marido provavelmente não acompanham as mesmas fontes de informação. Os grandes veículos começaram a perder leitores e no mesmo processo as "bolhas" informacionais cresceram. Boa parte dos leitores começaram a ler somente a respeito do próprio time, do próprio político, do próprio meio.
Percebendo o fenômeno do jornalismo geral x jornalismo de bolha, o jornal americano The New York Times (NYT) resolveu rever toda sua linha editorial. O NYT, que era o jornal mais vendido dos EUA, mas que perdia leitores ano a ano, deixou de praticar um jornalismo plural para virar um braço político de algumas causas (LGBT, raça, imigrantes, por ex.) e também passou a abertamente fazer campanha para os candidatos do partido Democrata americano. Bum! Saíram leitores infiéis e entraram torcedores apaixonados e aguerridos com as causas. As assinaturas voltaram a crescer.
Não há problema ético em seguir o caminho do NYT, é capitalismo, faz parte do jogo. O problema já não são mais as fake news, que são facilmente rebatidas/questionadas no ambiente de internet. O novo problema do jornalismo são das hidden news, a ocultação de notícias que são importantes. O leitor de bolha simplesmente não fica sabendo o que acontece "do lado de lá". E isto não tem como ser rebatido, pois não existe no mundo das notícias.
As bolhas de informação, que erroneamente são sempre chamadas de fake news, estão cada vez maiores e mais fortes. Direitista só acompanha mídia de direita, esquerdista só acompanha mídia de esquerda, e o resto dos "apartidários" tem bastante dificuldade de achar algum veículo, pois são poucos e não pagam as contas dos jornais. Acabam sendo ludibriados ou pelo direitismo velado ou pelo esquerdismo velado. A tal unanimidade burra, de Nelson Rodrigues, nunca mais deve voltar a existir.