Saúde ou economia?
Uma não existe sem a outra
Até o século XVII pensava-se que todos os cisnes fossem brancos. Não havia a necessidade de se dizer a cor do cisne. Fosse cisne, era branco. Até que na Austrália foi descoberto o primeiro cisne negro. Bum! Bastou uma variável para que todas as observações e certezas passadas fossem por água a baixo. O mercado financeiro começou a chamar eventos excepcionais de Black Swan (Cisne Negro). Nassim Taleb, matemático e operador de bolsas de origem libanesa, escreveu o livro que agora é o mais badalado das vitrines: "A Lógica do Cisne Negro". Nosso cisne atual chama-se Covid-19 e nos faz mudar as formas como perguntamos e respondemos sobre nosso futuro.
Não há resposta fácil para a pergunta do título do texto. Mas quero levantar algumas possibilidades, ganhadores e perdedores do lockdown (confinamento geral) que alguns governantes estão propondo. Já adianto: há poucos vencedores. Apenas fabricantes de produtos hospitalares que estão relacionados à doença e alguns restaurantes que já possuíam uma estrutura de entrega (delivery) estabelecida tiveram um aumento da demanda. Nos outros setores, ou perde-se pouco, ou perde-se muito.
Quem perde pouco: 1) funcionários públicos, que historicamente não tem o salário reduzido quando a arrecadação abaixa; 2) funcionários de empresas gigantes, que, a princípio, não sofreram qualquer restrição; 3) profissionais que já trabalhavam em casa e podem seguir antecipando trabalho ou montando estoques.
Quem perde muito: 1) desempregados, que dificilmente arrumarão emprego atualmente; 2) funcionários de pequenas empresas, e, por logo, de baixo salário, que estão fechadas; 3) profissionais liberais que precisam de vender na rua, que hoje estão desertas; 4) donos das pequenas empresas.
A longevidade e a extensão deste confinamento vai ditar o número de sobreviventes na economia. E quem definir esta situação não pode deixar de levar em conta que o país já tem 12 milhões de desempregados e que o pequeno comércio é o maior empregador do país, respondendo por 72% da força de trabalho. Como se não bastasse, ainda somos um país pobre – ao contrário do que você pode ver nos noticiários – com as 3 estruturas de governo carcomidas – cidade, estado e União – tendo que fazer mágica todo dia para pagar salário do funcionalismo.
A imprensa aceitou o chavão "saúde primeiro, economia depois". É uma frase bonita mas sem fundamento. Insisto: não há saúde sem economia. Quando vamos ao médico dificilmente fazemos o que de fato é receitado: pare de beber, pare de fumar e faça exercícios físicos. E não respeitamos porque na nossa vida não queremos só saúde. Queremos dinheiro, socialização, diversão e um conjunto de variáveis que o médico, lógico, não pode levar em consideração. Cuidado com os discursos fáceis e se proteja. Tanto a sua saúde quanto o seu emprego.
Comentários: