Reconstruir ou abandonar?
É hora de deixar o coração de lado e ligar a calculadora
"Depois da tempestade vem a bonança", reza o antigo ditado. É uma pena que este ditado dê vazão apenas para confusões mentais de ordem momentânea, e não derivações de desastres naturais. Vale mais o efeito psicológico de se recuperar de um relacionamento frustrado, de uma demissão ou o day after de um penalti perdido do que ter sua empresa ou casa varrida por causa de um temporal. Neste último caso, a tempestade continua depois da tempestade. Mas sigo a responder o que o texto propõe: reconstruir ou abandonar?
Empresas e casas residenciais tratam mais de coração do que de cérebro. Temos a tendência de querer morar perto dos pais, ganhar dinheiro para que o vizinho saiba que "vencemos na vida", e outras situações que não se encaixam no que os economistas chamam de escolhas racionais. Do contrário, viveríamos em constante mudança de endereço, de cidade, de estado e até mesmo de país. Ou seja, o que proponho vai sair um pouco do quadrado interpretativo que você costuma dar a suas decisões. E vou partir de algumas premissas.
1) As tempestades tendem a ser mais recorrentes e mais poderosas; 2) a densidade populacional nas pequenas cidades tende a crescer e a rede de esgoto não acompanha essa movimentação; 3) não adianta reclamar com o poder público pois estados e municípios estão literalmente quebrados; 4) seguradoras já mapeiam lugares de risco e não fazem apólices de seguro; 5) rezar ajuda, mas não resolve.
Dado minhas premissas, o leitor pode fazer alguns cálculos e perguntas: investir em reforma em um lugar comprometido é um sinal de inteligência? Justifica gastar dinheiro em um imóvel que não é meu? Mudar o local da minha casa/empresa vai doer tanto assim? O banco vai continuar a me fornecer generosos empréstimos de dois em dois anos? Consigo recuperar o valor da reconstrução antes da próxima enchente? Estou disposto a viver, necessariamente, tudo de novo, ou pior? Tenho vontade de culpar o prefeito/governador/presidente a cada tragédia anunciada? Tenho dinheiro suficiente para não dar um uso racional a ele?
A grosso modo, caro leitor, se você vive de aluguel, procure outra área. Não reconstrua o que de fato não é seu. Você pode amar viver ao lado da creche, do papai e da mamãe, ou do seu bar predileto. Não deixe seus pequenos prazeres alimentarem uma desgraça futura em sua vida. Agora, se você é proprietário do imóvel não vai ter opção. Reconstrua para vender, reconstrua para alugar, ou reconstrua para operar. No mais, boa sorte. Você vai precisar.
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