Privatização dos Correios: miragem ou realidade?
Empresa que já foi respeitada, hoje é sinônimo de letargia
Difícil imaginar no Brasil uma empresa que tenha perdido mais crédito, amor e respaldo junto à sociedade do que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo (Correios). Outrora sinônimo de eficiência, eficácia e rapidez, a estatal hoje amarga o rótulo de mula manca, vaca que já deu leite, empresa obsoleta. De quem é a culpa? Há 3 respostas possíveis e cada uma delas têm seu quinhão.
a) Concorrência e tecnologia. Telégrafos só existem no nome dos Correios. As entregas de compra por internet, que há 20 anos não existiam, praticamente dominam os serviços logísticos no país. A empresa não conseguiu acompanhar as transformações somadas a um sem nau de novos players no mercado. b) Ser estatal. Em um universo muito competitivo, como é o da logística nacional e internacional, qualquer movimento mais rápido do que o concorrente conta. Mas como se movimentar com amarras? Como se movimentar tendo seu presidente e corpo diretivo mudado de 4 em 4 anos? E como obter os melhores funcionários se não posso demitir os piores e nem fazer proposta para os melhores, dado o sistema de concurso público? c) O sindicato dos trabalhadores. Sempre mais focados em defender alguns partidos políticos, os 36 sindicatos (trinta e seis!!!) deixaram o futuro de lado: ao invés de se mobilizarem para pleitear treinamento melhor aos funcionários, já prevenindo um futuro da qual não conseguiriam escapar, preferiram gastar tempo e dinheiro com eleições políticas.
Agora o caldo já entornou. Ano após ano o Correio ficou a dar prejuízos, o maior deles no balanço de 2015, fechando com déficit de mais de 2 bilhões de reais. Mais do que uma opção ideológica, a privatização virou uma urgência. Grupos setoriais ligados à esquerda questionam "quem irá entregar carta em regiões pobres?". É comum escutar alguns mais ingênuos se questionar "se os Correios entregam as provas do ENEM, o ENEM será cancelado?". Pois é. O debate fica muito chato no Brasil com o passar do tempo.
Mas discordo da expectativa da vertente dos técnicos do governo federal. Creio que o possível leilão de venda dos Correios será deserto. Não aparecerão compradores. Da forma como a empresa opera simplesmente é inviável de ser comprada. Cito os contras: frota de caminhões que não paga IPVA começará a pagar quando deixar de ser pública; imóveis/agências passarão a pagar IPTU; corpo funcional pouco afeito a mudanças de endereço funcional e grande parte da operação é deficitária por natureza (fundo perdido para agrados políticos).
Torço pela privatização mas confesso que não espero que ela aconteça. O desenho da venda da empresa tem que ser muito agradável, e, creio eu, isso é missão quase impossível. Mas não há outro caminho se não sonhar: ou vende-se barato agora, ou espera-se o seu perecimento em um futuro cada vez mais próximo.
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