Movimentos de hoje, reflexo da década de 60
O povo nas ruas em busca de um novo rumo
José Salotto Sobrinho
Neste final de semana, vendo alguns flashes das manifestações país a fora, procurei ler artigos de cientistas políticos tratando o assunto, o que me pareceu muito vago. Tratam esses fatos apenas como víeis de defensores do presidente Jair Bolsonaro, enquanto, na mesma linhagem, a esquerda é vista apenas como espólio do ex-presidente Lula. Tudo mostrado como se fosse o clássico de futebol do final de semana, fatos momentâneos.
Do pouco conhecimento que tenho sobre a história política, venho observando que esses movimentos alternados, ora de direita, ora de esquerda, não passam de repetição daqueles de 1960 em diante até a tomada de poder pelos militares em 64. Dá para notar que no sangue do brasileiro, existe um DNA que distingue de que lado cada um está. Se de um lado estão aqueles que buscam a evolução através das vias revolucionárias, de outro aparece os nacionalistas defendendo o direito da família, da sociedade e do capital.
Desde a redemocratização do País, de 1975 para cá, a direita esteve hibernada, assustada com os movimentos de mundo no combate às ditaduras. Até pouco tempo, se apresentar como político de direita era uma vergonha. Enquanto isso, o socialista ex-presidente Fernando Henrique Cardoso absorveu os votos dessa classe, se colocando contra a esquerda. O dia que ele se declarou a favor do Partido dos Trabalhadores, na última eleição, a direita elegeu aquele que mostrava similaridade com as ideias direitistas.
A revolução de 64, chefiada em sua maioria por coronéis, instaurava inquéritos que tinham o objetivo de apurar atividades consideradas subversivas. Milhares de pessoas foram atingidas em seus direitos: parlamentares tiveram seus mandatos cassados, cidadãos tiveram seus direitos políticos suspensos e funcionários públicos civis e militares foram demitidos ou aposentados. Entre os cassados, encontravam-se personagens que ocuparam posições de destaque na vida política nacional, como João Goulart, Jânio Quadros, Miguel Arraes, Leonel Brizola e Luís Carlos Prestes.
O golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise econômica.
Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a "ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o Brasil. Uma ideia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à ordem capitalista e à segurança do país não viria de fora, através de uma guerra tradicional contra exércitos estrangeiros; ela viria de dentro do próprio país, através de brasileiros que atuariam como "inimigos internos" – para usar uma expressão da época.
Esses "inimigos internos" procurariam implantar o comunismo no país pela via revolucionária, através da "subversão" da ordem existente – daí serem chamados pelos militares de "subversivos". Diversos exemplos internacionais, como as guerras revolucionárias ocorridas na Ásia, na África e principalmente em Cuba, serviam para reforçar esses temores. Essa visão de mundo estava na base da chamada "Doutrina de Segurança Nacional" e das teorias de "guerra anti-subversiva" ou "antirrevolucionária" ensinadas nas escolas superiores das Forças Armadas.
Essa disputa atual para mostrar força e amedrontar o Congresso Nacional, será permanente. Ontem foi a direita, nos próximos dias será à esquerda e assim será por algum tempo, tendo um desenrolar de acordo com as proporções que isso tomar. Se os parlamentares federais fizeram bem a leitura, importante que votem logo as mudanças urgentes e necessárias esperadas pela população. Pode ser assim uma forma de acalmar os ânimos. Ao contrário, o movimento de rua pode levar posições mais drásticas.
Além das ações dos congressistas, está se desenhado um novo quadro político no País. Se no EUA por anos prevalece a hegemonia os partidos Republicanos e Democratas, aqui não será diferente. Duas siglas, nas próximas eleições vão voltar a acomodar os brasileiros, apenas separados pelos seus ideais.
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