Cobrança de bagagens e o eterno delírio dos seres humanos: acreditar em almoço grátis.

Cobrança de bagagens e o eterno delírio dos seres humanos: acreditar em almoço grátis.

"Tá esperando o quê? É de graça!"

"Tá esperando o quê? É de graça!". O novo debate posto na sociedade a respeito da liberação das companhias aéreas terem o direito de cobrar por bagagem nos voos é mais um triste capítulo da história brasileira. Se no mundo todo funciona de uma forma, por que fazer a mesma coisa aqui dentro? Mais uma tomada de 3 pinos provavelmente será criada com este debate.

Não há no Brasil nenhuma empresa aéreas de baixo custo (low cost). Para termos passagens a baixo custo é necessário que exista uma empresa que tenha custos baixos de operação. Porém, na aviação civil boa parte dos custos são fixos: preço da aeronave, salário dos funcionários, aluguel de espaço em aeroporto e preço do combustível. Os custos variáveis são pouquíssimos: valor investido em propaganda, qualidade da refeição a bordo e…. cobrança de serviços variados! A irlandesa Ryanair não serve comida quente, cobra para ir ao banheiro e quer passar a cobrar a mais de passageiros que estão acima do peso. Não gostou? Não viaje nela. Tem muita GOL e LATAM esperando para te cobrar duas vezes mais caro no bilhete.

Tanto os políticos como o cidadão comum tendem a querer entregar almoço grátis ao público. Liberar que a bagagem seja cobrada no voo seria uma forma de deixar a empresa explorar os clientes e promover a "venda casada", na ótica da OAB, dado que não se pode viajar sem mala. Políticos, cidadãos e OAB, sinto informar-lhes: there is no free lunch – não existe almoço grátis. E, neste caso, o almoço além de não ser grátis ficará mais caro do que o normal. Explico.

Pessoas que não têm muita bagagem a conduzir pagarão pelos que têm muita bagagem. Não há mágica, a cia. aérea precisará reservar um espaço médio para as bagagens. Sobe custo. Dado que até a cobrança de malas vira celeuma jurídico/político, as cias internacionais de baixo custo provavelmente não virão para o Brasil com medo de que sejam forçadas a uniformizar serviços, tendo que prestar "de graça" os mesmos serviços que as cias normais. Menos empresas, menos concorrência, maiores os preços das passagens. O almoço fica mais caro.

Resumo da ópera: as passagens ficarão mais caras inclusive para as pessoas que NÃO pensam em utilizar os serviços das aéreas de baixo custo. Porém, a marcha da insensatez parece que não vai parar. Muitos soltarão foguete pois as bagagens continuarão a viajar de graça. O número de aéreas continuará muito baixo e o bilhete continuará muito alto. Mas, em compensação, não haverá "venda casada" e quem tiver R$ 1.000,00 no bolso poderá seguir pagando a viagem Vitória-São Paulo sem problemas. É o nosso almoço grátis: bandeijão a preço de rodízio de carne.

 

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Quinta, 05 Dezembro 2024

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